23/03/2013

【Fanfics】My Little Dashie

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Olá Doces & Docetes!

Hoje, vim trazer a vocês uma fanfic muito linda, chamada Minha Pequena Dashie - sim, é de My Little Pony: Friendship is Magic. Sei que talvez seja errado não ter botado Random Comment no titulo para dizer que não se trata do assunto principal desse Blog. Mas percebi que se eu não postar coisas a mais nesse Blog sem ser sobre o sogo, ele vai ficar mofando. E não é esse o futuro que eu desejo para o Blog!
Vou começar a botar as categorias no titulo, e vai ficar a seu cabimento escolher ler ou não.

Bem, vamos agora para o que interessa.

Clique em Leia Mais para ver o resto.



A Fanfic pode parecer talvez enorme e até dê uma preguiça de ler. Mas garanto que, quem a ler inteira, vai se emocionar muito com essa pequena história. Então, preparados para começar a leitura? Se gostar, pode a deixar mais divertida. Escute o vídeo abaixo enquanto a lê:


Minha Pequena Dashie

Eu vivo minha vida, um dia de cada vez. Uma boa parte desses dias decorrem sem problemas, sempre caindo na mesma rotina: acordar, caminhar para o trabalho, a pé para casa, e assim por diante até que eu vá para a cama. Algumas vezes saio com meus poucos amigos, enquanto outras vezes jogo games ou assisto My Little Pony: A amizade é Mágica. De vez em quando fujo um pouco da rotina ou algo interessante ocorre, quando me encontro com um velho amigo, acho uma moeda no chão, ou fico sendo perseguido por um cão vira-lata.
Viver em uma cidade praticamente morta é deprimente. Aqui já foi cheio de vida e cor, mas agora muitas casas estão às ruínas, as lojas ficaram escassas e várias fábricas outrora grande que ajudaram a impulsionar a economia abandonadas com seus pátios cobertos de matagal. Eu nunca tinha visto esta cidade em seu auge, apenas em fotos. Nessa época meus pais viviam felizes, e, claro, desejavam o mesmo para mim.
Infelizmente, não posso dizer que o desejo deles se realizou.
Eu caía na mesma rotina maçante de sempre: acordar, trabalhar e dormir. Também tinha alguns momentos de felicidade, que logo desapareciam com as lutas diárias de sempre, superando meus pequenos momentos de alegria. Nesse aspecto, My Little Pony tem ajudado, pois toda vez que vejo o show, ou um dos pôneis em um site de fã, vejo algo que no fundo queria para a vida real: as cores brilhantes, os rostos alegres dos pôneis, o cenário pacífico de seu mundo. É tão difícil olhar para esse mundo bonito, tê-lo tão perto de mim, estender a mão para tocá-lo, apenas para ser impedido pela tela do computador.
Então acabo voltando à realidade. O desenho era como uma fuga pra mim, dessa vida triste que sempre tive, especialmente depois da morte dos meus pais. Desde então vou para uma caminhada. Quando me sinto triste, eu ando. Quando me sinto cansado, eu ando. Caminhar se tornou a minha segunda vida, gasto pelo menos metade do dia caminhando em meio às ruínas e os subúrbios caindo aos pedaços nesta cidade.
Passei a vida observando as pessoas chegando e partindo. Já vi prédios demolidos, queimados, pichações que tornaram a cor original das construções irreconhecíveis. Muito raramente esbarro com qualquer outra pessoa em meus passeios. A maioria não gosta de olhar para esta cidade outrora bela, com suas casas ou negócios anteriores agora decadentes. Eu não os culpo. Na verdade os invejo. Eles já viram este lugar cheio de vida com seus próprios olhos, os prédios ainda intactos, os gramados e jardins bem cuidados, as estradas pavimentadas e calçadas intactas.
A única coisa que já vi parecido com tudo isso são as pinturas de minha mãe, cada uma delas cenas coloridas do que esta cidade já foi. Ela começou a pintar depois que a crise financeira passou a arruinar o município, com a cidade desmoronando sob seus pés. Sua obra-prima é de um campo aberto que se estendia até uma garagem. Sobre ela, desenhou um arco-íris incrível. Minha foto favorita, talvez por isso que de todas as pôneis, minha preferida seja a Rainbow Dash. As cores vivas e alegres da pintura também me lembravam o Sonic Rainboom.
Houve momentos em que gostaria de ter, pelo menos, uma pelúcia dela. Para compensar usei um leão de pelúcia velho, até que fui capaz de economizar dinheiro suficiente para adquirir uma. Isso ajuda, de certa forma. Segurá-la curava todas as minhas feridas, minha dor, solidão e tristeza. Meus pés, depois de incontáveis horas de andar em meus sapatos velhos, pulsam sob o lençol, e durante esse tempo deitado, me sinto como uma mãe protegendo seu filho. É a única coisa que posso olhar e sentir a verdadeira alegria, mesmo que não seja a Rainbow Dash que eu queria.
Hoje, como sempre, caminhava para o trabalho. Foi a mesma chatice, observando as mesmas pessoas entrarem na loja, pegando suas mercadorias e saindo. Se não bastasse ainda tive que fazer hora-extra. No final do expediente, já tinha de cabeça o tempo que levaria pra chegar em casa, isso porque sempre seguia o mesmo caminho. Então decidi fugir da rotina e fui por uma rota diferente. Péssima idéia, pois fui parar numa parte da cidade ainda mais decadente, apenas algumas casas ainda de pé, e nenhuma delas ocupadas. Era realmente uma visão triste de ver.
Mas de repente eu estava parado diante de algo incomum; uma caixa de papelão perdida no meio da calçada. Tudo bem que era normal ver lixo jogado nessa cidade: caixas, copos, sacos plásticos nas ruas e nas quadras vazias, mas raramente vejo uma caixa de papelão inteira, sem estar amassada ou rasgada, mas aquela parecia nova em folha. Quando era mais jovem, tentei fazer o que podia pela cidade. Eu e alguns vizinhos juntávamos o lixo espalhado pelas ruas e calçadas para levar embora. Foi uma batalha perdida. Já tinha desistido de qualquer esperança de limpeza desta cidade, muito menos no meu bairro. Talvez por isso mesmo passei por essa caixa tão incomum, deixando que ela fosse levada pelo vento ou ficasse lá até se decompor. Antes eu sentia pena das pessoas convivendo com um cenário cheio de lixo, mas agora sei que boa parte é culpa do desleixo de muitos que vivem aqui, então por que deveria continuar me preocupando?
Passei pela caixa, apenas dando-lhe um olhar. Nada sobre isso me chamou a atenção de imediato. Ao chegar em casa, sentei-me no sofá e liguei a televisão, tentando tirar a caixa da minha mente. Tive pouca sorte, a caixa continuava lá. Afinal, o que fez um simples caixote ficar na minha cabeça? Certamente curiosidade é o que eu tinha de melhor, então voltei pelo mesmo caminho, já era noite sob uma lua azulada e em poucos minutos a encontrei no mesmo lugar, entre o concreto quebrado e a grama crescida. Ela não se moveu e também não parecia ter nada de especial senão uma mera caixa amarronzada de papelão. Mas à medida que me aproximava comecei a notar algo dentro. Mesmo em meio à fraca iluminação dos precários postes era possível enxergar algo muito pequeno e parecia ter várias cores, parecia ter o tamanho de um filhote de cachorro labrador com poucos meses de vida. Parei ao lado da caixa e levantei as abas dela para enxergar com mais nitidez.
E a partir dessa visão, sabia exatamente o que era, mas mesmo assim não conseguia acreditar. A princípio falei pra mim mesmo que era apenas um brinquedo jogado como tantos outros que já vi por aí. Mas então eu vi a respiração, parecia estar dormindo. Minhas mãos suaram, minha respiração ficou irregular, e eu estava piscando tentando compreender o que estava enxergando.
Mas não havia nenhuma dúvida: cada vez mais a imagem era a mesma: em seu interior estava uma pônei… dormindo… a Rainbow Dash.
Me ajoelho, olhando mais atento para ela. Não podia acreditar no que estava vendo. Não existia nenhuma explicação física, mental, ou extraterrestre de como poderia estar aqui, de como ela poderia estar nesse mundo escuro, sombrio e terrível. Examinando um pouco mais a caixa, vejo escrito em um dos seus lados os dizeres: “Dê a ela um bom lar.”
O primeiro pensamento que me vem à mente é “Quem iria desistir ou abandoná-la e por quê?” Minha cabeça agora é uma confusão de perguntas. Como ela chegou aqui? Por que ela está aqui? Seu flanco ainda era branco, e não restava mais nenhuma dúvida sobre quem ela era. Ao esticar minhas pernas cansadas de ficarem na mesma posição, sem querer acerto o pé na lateral da caixa e o inevitável acontece: ela acorda.
Ela olha em volta, esfregando o rosto com uma das patas dianteiras, e logo depois fica sentada nas patas traseiras. No começo tudo o que ela vê são as paredes da caixa, mas então ela olha para mim. Quando vi aqueles olhos grandes e negros, junto com as bordas cor de rosa ao redor deles, senti meu coração a mil por hora. Acabo me ajoelhando novamente perante aquele olhar inocente e fofo, onde não consegui evitar um sorriso. Eu não sorria assim há anos, desde a última vez que saí com meus pais para o único parque que existia na cidade.
Ela continuava olhando pra mim, e eu olhando de volta. Não sabia o que dizer, ou o que fazer, mas tinha que tomar uma iniciativa.
“Olá”.
Eu falo, mas ela não responde.
“O que você está fazendo aqui?”
Ela olha em volta, então novamente pra mim. Quanto mais a observo, mais percebo que é muito jovem; anos mais jovem do que sua aparência no episódio 23. Provavelmente ainda não podia falar, se é que era possível no meu mundo. Mas só o fato dela existir ali na minha frente já me deixa confuso. Volto minha atenção de volta para ela, e noto um pequeno arrepio em seu corpo. Nessa cidade faz muito frio à noite, especialmente no meio do ano.
Eu não sabia exatamente o que deveria fazer naquele momento: levá-la para casa? ligar para alguém? Eu sou um brony, mas nenhum dos meus amigos sabe do meu amor pelo show. Eu não poderia levá-la para um abrigo, seria a idéia mais estúpida que teria. Ela poderia ser levada em um laboratório onde fariam experimentos ou algo pior. Então eu tinha apenas uma escolha.
Ela balançava e tremia mais uma vez quando o vento frio atingia seu corpo, então dobrou as asas e as pernas, se encolhendo para tentar aquecer. Essa foi a gota d’água, não aguentava mais. Eu tiro meu casaco e estendo a mão para pegá-la. Recebo a resposta inicial que já esperava: medo. Ela começa a se contorcer em volta, sem saber o que eu estava fazendo para ela. Embora ainda não pudesse voar, agita suas asas tentando fugir. Eu a enrolei na minha jaqueta, deixando apenas a cabeça do lado de fora, e a segurei em meus braços. Ela continuava se contorcendo, mas depois que o calor do meu corpo começou a penetrar através do revestimento fino da jaqueta ela se acalmou.
“Está tudo bem. Me permita levar você para um lugar mais quente.
Eu sorrio novamente para ela. Ela olha para mim com muita confusão em seus olhos enquanto tenta entender o que está acontecendo.
“Não se preocupe, não vou machucá-la. Está ficando tarde, e você vai congelar aqui fora.”
Acho que ela me entendia, porque depois de dizer essas palavras seus olhos não ficaram mais arregalados, e ela acaba se aconchegando dentro da minha jaqueta, se remexendo um pouco, tentando achar em uma posição mais confortável. Eu podia sentir seus cascos e asas me cutucando quando ela mudava. Então ela repousa o queixo no meu braço e solta um profundo suspiro, fechando os olhos para cair no sono.
Meu coração dispara mais uma vez.
Durante toda a caminhada de volta fiquei atento caso outras pessoas passassem por mim. Não queria que ninguém visse ela, pois não tinha como saber qual seria a reação delas. Como de costume, porém, não vejo uma única pessoa. Já estava muito escuro quando cheguei em casa, felizmente para nós dois, tinha ligado a luz da varanda, caso contrário poderia ter passado direto. Sendo uma das poucas casas ocupadas no bairro, a escuridão tomava conta de tudo. Olhei para ela, que continuou dormindo na jaqueta. Ela não estava mais tremendo, e me senti muito quente.
Ando até minha varanda, com cuidado para não fazer muito barulho enquanto tiro as chaves do bolso e coloco na maçaneta. É escuro lá dentro, tinha deixado tudo apagado quando saí. Com o apertar de um botão, a única lâmpada no corredor vem à vida, iluminando um pouco a sala.
Ainda com a Dash no meu braço, ando até a sala. Quando passo pelo meu retrato de família, saúdo com um “Olá mãe, olá pai.” Eu sei que eles não estão lá, mas sabendo que me amavam, e que os amo, me ajudava a manter a sanidade, para continuar encarando essa vida entediante que sempre tive. Quando entro na sala, podia sentir ela se mexendo no meu braço. Tinha acordado, provavelmente quando acendi a luz, e agora estava ficando impaciente. Sem idéia do que fazer ou como lidar com a situação, eu a coloquei no sofá.
Imediatamente, ela salta para fora do casaco e olha em volta, investigando o ambiente. Fico apenas observando ela explorar o sofá, em seguida, vai até a mesa que ficava mais à frente.
“O que você está fazendo aqui no meu mundo?”
Eu não tive a intenção de falar em voz alta, mas às vezes acontece, isso porque mal me vejo falando, apenas quando meus poucos amigos estão por perto.
Da minha pergunta, a resposta é apenas mais um olhar confuso, mas o que mais poderia esperar de uma pônei filhote que ainda não podia sequer falar? mas eu insisto.
“Você está perdida?”
Depois dessa pergunta, suas orelhas abaixam e ela olha para o chão. Ela não tinha idéia do que estava acontecendo, onde estava, quem era eu, ou qualquer outra coisa. Ela estava se sentindo perdida.
“Bem, até que algo aconteça, acho que você pode… ficar comigo.”
Ela levanta a cabeça e as orelhas, e me olha com preocupação. Pareceu que minhas palavras não foram suficientes para acalmá-la.
“Não se preocupe. Tenho certeza que o que quer que tenha trazido você aqui terá uma explicação na hora certa. Nós só temos que esperar. Tudo bem?”
Eu não sei por que perguntei isso, mas dessa vez pareceu que tinha dado certo. Ela se anima e sorri. As próximas horas são gastas dando-lhe o “Grand Tour” na minha casa. Nada surpreendente de ver, e também evito levá-la para o meu quarto com medo de que ela sumiria na grande quantidade de roupas sujas. Em seguida vou até a cozinha dar algo para ela comer. Eu quebro algumas cenouras pequenas, e surpreendentemente descubro que ela tem alguns dentes. Por ela ser um filhote, não tinha certeza se podia comer alimentos sólidos como cenoura. Além do mais, ela é um “cartoon” e nem eu e nem ninguém poderia saber que tipo de alimento era mais adequado pra ela.
Satisfeita com a comida, ela encontra um lugar confortável na poltrona reclinável do meu pai, onde se senta. Eu não me importo, apesar de nunca ter sentado nela. Nunca foi permitido quando ele estava vivo, mas não vou ser mau para a filhote. Também lhe dei um pequeno cobertor para se aquecer, devido à temperatura atual da minha casa. Não é tão frio como lá fora, mas o meu aquecedor teve problemas desde antes dos meus pais falecerem. Houve um truque para corrigi-lo, mas que morreu junto com meu pai.
Quando sentei no sofá, observando ela na poltrona, acabei caindo no sono. Não esperava que fosse dormir hoje, não depois do ocorrido, mas foi normal depois de longas horas de trabalho e cuidando da filhote, meu corpo estava exausto. Eu não sei quanto tempo fiquei dormindo, mas quando abro os olhos sinto alguma coisa encostada em mim. E então vejo dormindo ao meu lado a pequena pônei azul com sua crina e cauda colorida, e a cabeça apoiada no meu braço.
Eu sei que muitos metidos a “machões” dariam risada nesse momento, mas meu coração disparou novamente.
Deitada, ainda dormindo, se enrolou ao meu lado e me fez sorrir novamente. Sua respiração suave era difícil de ser ouvida. Os cabelos faziam cócegas no meu braço, mas eu evitava coçar. O calor de seu corpo aquecia meu coração. Quanto tempo não esperava ter um momento como este? Meu próprio pequeno pônei, a Rainbow Dash. Eu dormia com uma de pelúcia, mas agora tenho uma de verdade, dormindo ao meu lado.
Não havia mais nada que importava pra mim. Meu desespero, meus pés doloridos e o coração partido todos passaram despercebidos com este novo sentimento que tenho agora, esta alegria que estou experimentando. Ela está aqui. Ela é real. Agora, ela é o meu pequeno pônei. A minha Dashie.
Quatro meses haviam passado desde que trouxe a Rainbow Dash filhote em minha casa. Pesquisei o que podia sobre o assunto, mas não cheguei em nenhuma conclusão relevante. Não tinha nenhuma idéia ou pista do porque dela estar aqui, e, francamente, não me importava mais. Estes poucos meses com ela foram os momento mais felizes da minha vida após a perda dos meus pais. Ela abriu meu coração para o amor e alegria. Agora, ela se senta ao meu lado no sofá, enquanto assisto televisão.
Ela gostava dos desenhos animados que passavam na TV aberta. Ela agia exatamente como uma criança faria. Outra façanha incrível é que ela foi aprendendo a falar. Eu não levo jeito como professor, ou como um pai, mas estou fazendo o melhor para ajudá-la a aprender a falar e ler. Eu não sei como, ou mesmo por onde começar a ensiná-la a escrever. No desenho eles fazem isso com a boca. Quando ela ficar um pouco mais crescida, vou fazer o teste.
Geralmente os anos passavam muito devagar. Agora, porém, os anos estão passando muito rápido pra mim. Como eu não tinha conhecimento de sua real data de nascimento, considerei como sendo seu aniversário o dia que a encontrei: dezessete de Setembro, curiosamente, essa é a data que a segunda temporada de My Little Pony: A amizade é mágica foi ao ar no ano passado. Até parei de assistir o desenho quando Dashie entrou em minha vida. Não havia razão para continuar.
Seria difícil esconder o desenho dela, e ainda mais complicado explicar a situação se ela nunca assistisse, especialmente com a sua idade atual. Ela sabia que seu nome era Rainbow Dash, mas a chamava carinhosamente de Pinkie Dashie, e ela gostava. Agora ela podia se comunicar plenamente comigo, bem como ler, e está começando a aprender a escrever, com a boca, como já havia imaginado.
Eu tentei “inventar” alguns dispositivos para o casco, para que ela pudesse escrever, mas usar a boca pra ela era tão natural e fácil como para um humano usar as mãos. Uma coisa que anda me preocupando é que todos os dias ela se senta em frente à janela, olhando para fora. Eu não estou preocupado com ela sendo vista por terceiros, afinal estou em um bairro quase desértico, de modo que é a menor das minhas preocupações. Ainda assim, embora ela ainda não diga nada para mim, posso ver a fome de ar fresco em seus olhos. E de fato, não poderia mantê-la dentro de casa o tempo todo.
Ha … eu continuo falando como se ela fosse ficar aqui para sempre. Isso não é verdade. Acho que um dia ela vai voltar pra casa, talvez através de algum feitiço mágico como o de Twilight. Em meu coração, espero que isso nunca aconteça. Mas na minha cabeça, temo que vai. É apenas uma questão de quando.
Espero levá-la para fora de casa em breve. Estive verificando alguns dos lotes abandonados e parques antigos no caminho para o trabalho, vendo qual a melhor localização para levá-la. Estranhamente, parece que o parque onde costumava brincar quando criança era a melhor opção. Decidi então levá-la neste, mas como? Como ela ainda era pequena, poderia levá-la escondida dentro de uma jaqueta. Amanhã parece ser um bom dia.
Após dois anos sob meus cuidados, comecei a ajudá-la a aprender a voar. Ela estava ficando muito grande em apenas um par de anos, e difícil de escondê-la quando nós caminhávamos para o parque. Fiquei tão desesperado para mantê-la oculta, que comprei uma fantasia de cachorro, para que pudesse andar lá despercebida. Ela não estava feliz, pois não queria andar e sim voar. Então, peguei alguns livros na biblioteca que desse qualquer referência sobre pássaros aprendendo a voar.
Eu teria olhado na internet, mas temia que ela, curiosa, fuçasse até aprender a usar essas coisas. Há uma série de horrores na internet, e ela não estava pronta pra isso. Ela já tinha visto muita coisa ruim na televisão.
Voltando para o vôo, levei ela para um parque mais isolado durante semanas, na esperança de que pudesse ajudá-la a voar. Haviam muitas árvores grandes nesse parque. Era o local perfeito para a sua prática. Se ela caísse e eu não pudesse pegá-la, pelo menos teria algo remotamente macio para “pousar”. Ela caiu muito. Eu sabia que isso iria acontecer. Havia vários arranhões, cortes e hematomas em direção a seu objetivo, mas finalmente, depois de muitas semanas de trabalho, ela voou. Foi apenas a uma curta distância, cerca de dez metros, mas ela voou. Embora um pouco esfolada, ela estava radiante de orgulho. Talvez agora pudesse voar por cima, de forma que as poucas pessoas no chão não conseguissem notá-la. Também era a nossa deixa para testar se ela podia manipular as nuvens como no desenho, o que tornaria muito mais fácil fixar e ocultar seus lugares. Assim ela poderia se esconder em uma nuvem quando tivesse muita gente no parque.
Outra coisa que me chamou a atenção. Ela me perguntou sobre ter seu próprio quarto. Fiquei pensando, afinal a casa tem um cômodo vago, embora meus pais haviam enchido com as coisas da minha antiga escola, e dos meus vários brinquedos velhos. Nada que me impedisse de limpar, claro, assim ela poderia ter seu próprio quarto, e se sentir um pouco normal. Ela sempre foi muito inteligente, e sabia da diferença entre a nossa espécie, mas ainda não sabia nada sobre sua origem. Ela ainda não tinha maturidade suficiente para que eu pudesse explicar, então a única coisa que podia fazer era mantê-la feliz.
Só queria ter uma maneira de comprar as coisas que ela desejava.
Se há quatro anos eu dissesse pra mim mesmo que hoje estaria cuidando de um desenho animado, a Rainbow Dash, certamente me chamaria de louco. Talvez eu seja mesmo, mas não me importo. Estou feliz. Ela está feliz. Hoje é um dia de comemoração, porque hoje, minha Dashie ganhou a sua marca especial!
Honestamente não sabia como lidar com esse fato. Ela nem sabia o que era essa marca até o dia que expliquei. Agora ela está ainda mais empolgada do que nunca. Foi mais um passeio como qualquer outro, mas desta vez ela queria ver o quão alto poderia chegar. Eu tinha estabelecido um limite na altitude, mas como não podia voar, o máximo que poderia fazer é dizer a ela para ter cuidado.
Sei que ela tinha juízo suficiente para agir com responsabilidade, mas, bem, ela também é uma fã de corridas e muitas vezes acabava agindo com ousadia. Por algum tempo ficava inventando truques e acrobacias no ar e dava nomes para cada um deles. Enquanto isso eu ficava sentado em um banco inclinado pra cima observando seus movimentos, ela queria platéia durante seus vôos e isso às vezes me preocupava. Pelo menos ninguém jamais chegou a passar por aqui, há muito tempo. Na verdade, nessa área, acho que a última pessoa deixou o lugar há mais de um ano. Há rumores que esse local será comprado por alguma empresa. Ainda não sabia o que fazer sobre isso, mas não devo me preocupar no momento. Só pelo fato da minha Dashie estar feliz, já me sentia em paz. Tudo bem que esse não é o seu mundo, mas ainda assim é a mesma Rainbow Dash com a mesma coragem e atitude do desenho e agora com sua marca especial, era só o que importava.
Então ela olhou pra mim de um modo diferente, como se quisesse que eu prestasse atenção nela e em seguida subiu o máximo possível, não foi difícil entender o que estava planejando: ganhar muita velocidade assim que mergulhasse, mais uma de suas ousadias, claro, mas dessa vez com um resultado inesperado. Ela quebrou a barreira do som, e criou o que no desenho era chamado de “Sonic Rainboom”!
Se no próprio desenho já era difícil imaginar que algo assim era possível, tampouco aqui, na vida real, mas ela realizou essa façanha. Eu sabia que ela poderia quebrar a barreira do som, mas criar o arco-íris também, desafiando todas as leis da física, foi impressionante. A explosão inicial, ao quebrar a barreira do som, resultou em muitas janelas quebradas e alarmes de carros e casas disparando enlouquecidamente. Rapidamente eu a cobri com uma capa e corremos para casa antes que alguém pudesse chegar ao parque. Tive sorte de nenhuma das minhas janelas terem sido quebradas.
O resto do dia foi gasto comemorando, aliás, era o seu quarto aniversário. Eu não tinha como saber com quantos anos ela estava quando a encontrei, então comecei do zero. Eu teria comprado um bolo, mas devido à explosão causado pelo sonic rainboom os estabelecimentos estavam todos fechado para reparos nas janelas. Então decidimos fazer nosso próprio bolo. Nessa parte os escritores do desenho também acertaram: a Dash não se dava bem com culinária, e mesmo eu dando o melhor de mim, ainda assim a cozinha virou uma bagunça. Mas nós nos divertimos, e ela estava feliz. Por isso, também estava feliz.
Ficamos comemorando até de madrugada, aliás, ela não dormia mais comigo no sofá, agora tinha seu próprio quarto. Eu também voltei a dormir em minha antiga cama, mas mantinha a porta aberta caso ela precisasse de mim. Eu a levei no colo até sua cama e a aconcheguei cuidadosamente enquanto a cobria. Em seguida, ela disse:
“Boa noite papai. Eu te amo!”
Eu não usava a internet já fazia.. três anos? Nem sabia mais como andava o desenho My Little Pony, se as comunidades de fâs ainda existiam ou não. Mas por que me importaria? Dane-se tudo! Oras, meu coração disparou duas vezes seguidas! Na primeira quando ela me chamou de pai, e na segunda quando disse: “Eu te amo”. O que mais eu poderia querer?
Por um momento, não sabia o que dizer ou o que fazer quando ela falou aquilo, então me lembrei do que meus pais costumavam fazer. Eu inclinei e a beijei na testa, dizendo a mesma coisa:
“Boa noite, minha pequena Dashie . Eu também te amo.”
Ela sorriu para mim, depois fechou os olhos pra dormir. Então saí, apaguei a luz e fechei a porta como de costume, e fui até o sofá. Passei várias horas sentado, estava perdido em pensamentos. Ficava imaginando o que levou ela a me chamar de papai. Claro que por estar com ela e cuidando a tanto tempo era natural me considerar seu pai, e francamente, eu a considerava minha filha. Mesmo que nós sejamos de espécies diferentes, ainda assim a amo com todo meu coração. Quando ela falou aquelas palavras, foi para que eu finalmente percebesse isso. A casca dura que criei ao meu redor quando meus pais faleceram sumiu por completo. Eu deixei uma pônei pequena e doce entrar em minha vida. Dei-lhe uma casa pra morar, comida, e agora um pai para amar. Ela me deu esperança, amor, compaixão, e agora algo que pensei que jamais teria: uma filha.
Ainda fico pensando na possibilidade dela voltar para Equestria e quando isso poderia acontecer. E cada dia fica mais difícil e sofrido imaginar algo assim. Eu só espero que ela nunca se esqueça de mim, porque eu nunca vou esquecer dela.
Acredito que agora Dashie esteja em seu tamanho real, totalmente crescida. Embora ainda tenha cerca de dez anos, de acordo com meus cálculos, é possível que seja um pouco mais velha, proporcionalmente a uns quatorze ou quinze anos. Desta forma, comemoramos cinco aniversários “perdidos”, tudo no mesmo dia. Nós nos mudamos da casa dos meus pais, porque finalmente economizei dinheiro, além da sorte que tive em um cassino. Nós compramos uma bela casa que ficava a centenas de quilômetros da cidade. Tinha um monte de campos abertos, não havia outra casa dentro de dez kilômetros, era só eu e ela.
Agora ela podia voar à vontade ao redor de tudo que queria, sem nenhuma preocupação. Ela estava verdadeiramente feliz, mas não se esquecia do bom e velho parque da cidade, onde cresceu, e que não existia mais. Uma grande empresa comprou toda a área e construiu uma grande fábrica lá. Foi um boom incrível para a economia, e as pessoas começaram a construir casas novamente! Fiquei feliz com a notícia, mas nunca daria certo voltar. A quantidade de pessoas impediria que Dashie saísse à vontade, e eu não iria forçá-la a ficar dentro de casa o dia todo, a menos que estivesse chovendo lá fora.
Comecei um trabalho novo e mais rentável do que o antigo. Dashie ainda falou sobre a possibilidade dela também arrumar um emprego, mas então se lembrou do que eu dizia sobre os perigos dela ser descoberta. Seu semblante era de partir o coração. Estávamos nos deliciando com um bolo que fizemos, aliás, melhoramos muito nesse quesito, quando ela afirmou ser a inventora do ingrediente. Implicitamente, ela quis dizer que poderia trabalhar fazendo bolos. Eu falei brincando que não, pois ela era uma pônei e depois ri. Ela ficou em silêncio. Meu deus eu fui horrível. Só ri porque minha filha era diferente.
Pedi desculpas por horas, e mesmo ela dizendo que entendia, sei que ficou magoada. Por sorte, eu tinha como corrigir essa gafe. Devido ao tamanho da propriedade, que envolvia um amontoado enorme de gramas, modifiquei um cortador para que ela pudesse usar, e, assim, ter um trabalho. Combinei até em pagar pelo serviço, pois desta forma poderia comprar tudo o que ela sempre quis, embora eu quem deveria comprar por ela, mas ainda assim poderia se sentir útil e dizer que trabalhou com alguma coisa. De acordo com o desenho, ela é uma pônei que trabalha com o tempo. Contudo, eu não queria ela mexendo com a mãe natureza, a menos que fosse uma situação de emergência, então realmente não havia “O” trabalho que poderia ser feito lá.
Eu ainda não podia acreditar que já estava há dez anos com ela. Meu Deus, como o tempo passa rápido. Queria desacelerar o tempo, pois assim poderia passar longos momentos com ela. Eu não sei quando, mas tenho a sensação de que nosso tempo juntos estava acabando. Tudo isso tem sido bom demais para ser verdade.
Hoje foi um dos piores momentos da minha vida, até mais do que a morte dos meus pais. Por eu sempre ter adiado e deixado para a última hora, Dashie acabou descobrindo sozinha sua origem antes que eu pudesse lhe contar. Agora ela sabia o que era, uma personagem de desenho animado feita a partir de um programa de televisão. Ela ficou louca, não, chateada além da imaginação. Ela se trancou em seu quarto, mas conhecia minha filha, e sei que não iria ficar lá por muito tempo. Ela abriu a janela e voou, provavelmente para uma árvore muito triste e de mau humor.
Eu sou um monstro.
Deveria ter dito quando tive a chance, só não tinha certeza de quando seria a hora certa. Agora somos dois sofrendo pelo meu descuido. Achei que TV a cabo seria uma boa, para dar a ela mais opções, só me esqueci do canal Discovery Kids onde passava esse desenho. Eu nem estava ciente de que ainda era exibido, tinha parado na oitava temporada, mas ainda assim era reprisada.
Isso aconteceu quando voltei do trabalho com alguns mantimentos, deixei na cozinha, e fui até a sala de estar. Foi quando eu vi na TV:
“YAY! ELA CONSEGUIU!” Foi a Fluttershy gritando, saltando de alegria junto de Applejack, Twilight, e Pinkie Pie todas sentadas na mesma nuvem com olhares perplexos em seus rostos.
Meu coração se partiu, mesmo depois de 12 anos, me lembrei desse episódio. Ainda me lembrava desse episódio maldito. Foi onde Rainbow Dash realizou o Sonic Rainboom e salvou Rarity e os três Wonderbolts, muito parecido com aquele que minha Dashie criou anos atrás. Distraído, acabei deixando as chaves que estava segurando caírem no chão de madeira. Se antes ela não sabia que eu estava ali, agora sabia.
“Há quanto tempo …” Dashie me perguntou , sem nenhuma emoção na voz dela.
“Eu ..”
“Há quanto tempo você sabia sobre isso?”
“Eu..”
Dashie se virou para mim. Deu pra ver em seu rosto que estava chorando, e sua crina toda embaraçada.
“HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ SABE SOBRE ISSO???!!”
Eu não tinha como ajudá-la … uma lágrima correu em meu rosto quando ela gritou comigo.
Foi a primeira vez em todos esses anos, que ela levantou a voz para mim.
E eu merecia.
Então me sentei, desliguei a televisão, e contei tudo. Expliquei a ela sobre o desenho, como havia encontrado ela, e respondi outras perguntas que ela fez.
E, claro, havia um monte.
A maioria delas era sobre o desenho, do qual eu simplesmente dizia que era no que eu realmente acreditava. Ainda que ela fosse a Rainbow Dash do desenho, explicava que era uma pônei diferente desse cartoon, não era a mesma personagem. Mas ela teimava e continuava me atacando.
Levei um baita sermão, e merecia tudo isso. Mantive esse segredo terrível dela por muito tempo. Agora ela está totalmente crescida, capaz de cuidar de si mesma caso fosse para Equestria. Aqui, eu ainda a tratava ainda como minha pequena pônei. Foi um erro, é claro, mas agora não podia fazer nada. Queria que isso nunca tivesse acontecido, mas no fundo sabia que era inevitável. Eu devia ter feito o que era certo, mas fui egoísta. Era apenas uma questão de tempo que ela descobrisse, pois já sabia que era diferente.
Depois da nossa conversa, ela voou para seu quarto e bateu a porta com força. Uma hora depois fui ver como ela estava, mas não respondia. Só poderia esperar que voltasse, ou que pelo menos ficasse longe das pessoas. Se alguma coisa, algum tipo de portal se abrir e ela voltar ao seu mundo, e nunca tiver que pensar em mim novamente. Tudo o que poderia dizer a ela neste momento, é que sinto muito.
Eu…sinto…muito.
Já se passaram três dias desde que Dashie foi embora. Na noite de sua partida, eu fiz algo que não tinha feito há muito tempo: fui para uma caminhada. Não tinha certeza de onde estava indo, ou por quanto tempo andei, mas foi o que fiz. Agora, três dias depois, estou aqui a pé, mais uma vez. Estive fora por cerca de três horas, e apesar de ser apenas cinco da tarde, já havia escurecido bastante.
Uma tempestade estava se formando, e poderia ser atingido a qualquer momento. Comecei a voltar pra casa, mas não corri. Minha energia nesses últimos dias estava esgotada, não tinha comido mais que uma torrada. Me sentia perdido no passeio pelos bosques que circundavam a minha casa. Não, a nossa casa. É tanto dela como minha, e nada vai mudar isso.
A chuva começou, mas não acelerei o rítmo. Apenas andava de uma forma como se não tivesse feito isso há muito tempo. As memórias distantes de toda minha dor e tristeza pela Dashie começavam a voltar em minha mente. Os respingos de água nas folhas das árvores me ajudavam a ficar distraído. Era um som calmo, que nunca se ouviria na cidade.
A chuva já estava deixando minha camisa ensopada. Tenho certeza que até amanhã estarei doente, mas não me importo. Eu já estive doente durante três dias, uma doença mental que foi me corroendo por dentro. Minha filha está em algum lugar, sofrendo, precisando de algum conforto e calor nesta chuva. Eu gostaria de estar junto dela, embora ela poderia recusar. Da forma como ela agiu, pode ser que não queira me ver mais .
Eu não a culpo, deve ser horrível descobrir seu passado assim. Não posso nem imaginar o que seria tal sentimento. Sei que a Dashie é forte, e que pode se virar sozinha. Mas também sei como ela guardava rancor às vezes. Mesmo que ela voltasse, não sei se iria me perdoar. E mais importante, se eu mesmo poderia me perdoar.
As copas das árvores não estão retendo bem as chuvas torrenciais, e eu acabo sendo martelado pelas gotas de água. Paro para olhar ao redor, e encontrar um rumo para voltar pra casa. Não estava perdido, a maior parte desta área era fácil de percorrer depois que se acostumava. Mas enquanto andava, também procurava pela Dashie. Era a razão pela qual estava andando pela floresta.
Prossigo, mantendo um ritmo estável através da chuva. De repente, me deparo com uma árvore grande e grossa. Sua estatura se destaca entre as outras, ao olhar abaixo de seus ramos, percebo que cai pouca água que fica em sua maioria retida na parte de cima. Eu precisava mesmo fazer uma pausa, então aproveito e sento embaixo dela. A grama é pouco molhada, com apenas algumas pequenas gotas caindo.
Este é o tipo de árvore que imagino onde Dashie poderia se esconder. Gostaria que fosse verdade, mas não vi nem sinal dela quando me aproximei.
Eu fechei meus olhos, e encostei sob o tronco da árvore pensando sobre minha vida, nossa vida, juntos como pai e filha. Nós crescemos muito como família, e como qualquer outra era normal um conflito, mas não a ponto de partir o coração como há três dias.
Acabo sentindo uma lágrima escorrendo em meu rosto quando me lembro novamente da Dashie, a raiva nos olhos dela, misturado com a confusão. Queria tanto fazer as coisas direito, ou voltar no tempo para impedir que tudo isso tivesse acontecido. Mas não posso. O que está feito está feito.
“EU SINTO MUITO …”
Falo em voz alta, sem me importar se alguém estivesse ouvindo. Estou sozinho nesta floresta, além da vida selvagem. Nesta chuva os animais se escondem bem, e os que não se abrigam ficam longe de mim.
“Estou tão arrependido, Dashie”.
Eu continuo chorando enquanto mantenho meus olhos fechados, encostado na árvore. A chuva continuava caindo ao meu redor. Algumas gotas ocasionais caíam na minha cabeça, mas sem que eu me importasse.
Então escutei o som de um galho se quebrando.
Abro os olhos com o som repentino, e olho para a direção de onde veio o barulho. Chocado, vejo na minha frente, me encarando com os olhos lacrimejados, quase não acreditando, mas era ela mesma. Dashie, minha Dashie, com folhas e seivas de árvores impregnadas em seu corpo da crina até a cauda, em posição ereta, de pé nas duas pernas traseiras. Ela estava toda molhada de chuva e lágrimas. Eu não tinha ouvido ela se aproximar, pois sendo uma pégasus ela era sempre sutil em seus passos.
Ela não fala, apenas caminha até mim, dessa vez não se importando com o barulho que fazia enquanto andava. Ela parecia tão horrível, e ainda assim tão bonita ao mesmo tempo. Estava precisando de um belo banho, mas essa era a menor de minhas preocupações agora.
Sem falar nada, ela se senta ao meu lado, sem contato visual, apenas olhando para a floresta. Mas eu só conseguia ter olhos pra ela, querendo abraçá-la com força e nunca mais deixá-la partir. Mas não poderia fazer isso de forma repentina. Finalmente, ela é a primeira a falar.
“Eu… Ouvi dizer que você… “A voz dela ficou baixa enquanto sussurrava:” Eu também sinto muito. “
Eu simplesmente sorri em meio às minhas lágrimas; sua atitude teimosa demonstrava a dificuldade que ela tinha para pedir desculpas. “Dashie, você não tem nada para se desculpar. A culpa é minha, só minha.”
Tinha sido a minha vez de me expressar, quando ela finalmente olhou para mim com um semblante triste.
“Pai. Você… ainda me ama? “
Agora sim era a hora de agir. Eu a abraço forte, não contendo as lágrimas.
“Claro, Dashie. Eu sempre amei você e sempre te amarei, não importa o que aconteça. Nem mesmo uma luta pequena como a nossa poderia mudar isso. “
Ela retribui o abraço, e ambos ficamos aos prantos. Continuamos pedindo desculpas, eu por faltar com a verdade e ela por levantar a voz e sumir. Depois de algum tempo, a chuva diminui, enquanto permanecemos sob a árvore.
“Pai”.
“Sim?”
“Podemos ir para casa agora? Eu preciso de um banho. “
Deixei escapar uma risada, e ela fez o mesmo. Então voltamos juntos, e ela estava sorrindo novamente. Eu também. Estive pensando sobre seu presente de aniversário, e decidi entregar um pouco mais cedo.
Um bilhete para a Indy 500. Sim, vou levá-la para a corrida. Ela pode assistir sentada em algumas nuvens enquanto eu fico nas arquibancadas. Ela nem precisaria do bilhete, mas seria uma boa lembrança de sua visita. Tenho certeza que vai amar o show, e tudo o que queria naquele momento era deixa-la feliz.
Com o tempo, tenho certeza que ela irá relaxar e se conformar com relação ao cartoon. Ela é uma pégasu inteligente, e sabe que é real, não feita por um desenho. Eu só espero poder ajuda-la a acreditar nisso.
Na vida real, é comum os filhos deixarem os pais depois que atingem certa idade, seja por motivos bons ou ruins. Agora sento aqui na minha sala, olhando o álbum de fotografias mais antigo entre mim e Dashie. Em seu vigésimo aniversário, tínhamos planejado uma excursão especial para assistir a um show aéreo. Enquanto nos preparávamos para sair, houve uma batida na porta.
Nunca em todos esses anos em que moramos aqui alguém havia batido na porta. Talvez por isso mesmo, jamais havíamos nos preparado para receber visitas. Simplesmente disse a Dashie para ir ao seu quarto, enquanto atendia. Fui até a porta e perguntei quem era, esperando ser algum viajante estranho perdido nessa região remota. A voz feminina responde com elegância. Surpreso, passei a ouvir com mais atenção. Ela perguntou se poderia entrar; uma pergunta que normalmente eu recusaria, mas a sua voz me era tão familiar, que acabei não recusando.
Quando abri a porta e a vi de pé na minha varanda, não tinha certeza se estava sonhando ou alucinado. Na minha frente estava a majestosa Princesa Celestia. Simplesmente fiquei sem palavras; Senti duas emoções diferentes ao mesmo tempo: a primeira de um brony igual ao dia que encontrei a Dashie, e a segunda, sentindo muita tristeza, pois temia o que isso significava. Ela ficou ali mais um pouco olhando pra mim, a altura de nossos olhos estava no mesmo nível. Recuei, e permiti que ela entrasse. Para minha surpresa, logo depois de Celestia também entrou Twlight Sparkle, depois o resto da turma: Applejack, Rarity, Fluttershy, e por último Pinkie Pie saltando dentro da casa e sendo a segunda a falar:
“UAU! então é assim uma casa alienígena!! Você também tem cozinha! Estou morrendo de fome, você está morrendo de fome? Eu posso fazer alguns cup…”
Ela foi interrompida pela Applejack: “Calma docinho! Estamos aqui pela Rainbow Dash, não temos tempo para comer agora.”
O estômago da Applejack roncou: “Não importa se estamos com fome.”
Eu ainda não sabia como reagir, mas sem querer ser rude ofereci algumas sobras, “Nós.. temos algumas sobras do jantar da noite passada. Vocês são mais do que bem-vindas.”
Pinkie aceitou isso como um “sim” e correu para a cozinha com muito vigor. Eu nem precisei dizer onde tudo estava, parece que ela mesma já sabia. Fiquei entre considerar isso como “sorte” ou porque ela estava simplesmente sendo Pinkie Pie. Escolhi a última.
“Eu vou ficar de olho nela”, disse Applejack, caminhando até a Pinkie. Quando ela passou, inclinou o chapéu para mim. Eu achei estranho o comportamento tranquilo das pôneis, como se existisse humanos em Equestria. Podia dizer a mesma coisa sobre mim, mas tendo a Dashie há quinze anos, também não me senti tão surpreso. Agora, tenho cinco outras pôneis e uma deusa olhando para mim com a mesma curiosidade que eu tinha por elas.
Houve um momento de silêncio enquanto eu observava as duas pôneis entrarem na cozinha, onde começaram a fuçar minha geladeira.
“Estou muito surpresa.” Afirmou Celestia: “Esperava um pouco mais de resistência para nos deixar entrar.”
“Por quê faria isso? Eu sei quem são vocês.”
Celestia balançou a cabeça. “Ah, então você sabe.”
“Vocês são personagens ficcionais de um programa de TV para crianças, então sim. Mas porque estão aqui não faço a menor idéia.”
A última parte eu menti, na esperança de que não seja isso mesmo que estava pensando.
Sim, eu sabia o motivo, mas queria ignorá-lo.
“Acredito que você sabe.”
O meu coração se partiu. Eu sabia, e ela foi direto ao ponto sobre isso. Durante todos esses anos, eu pensava nessa possibilidade, torcia para estar errado e para o tempo passar lentamente, caso estivesse certo.
“Desculpe-me senhor,” Twilight começou, “Mas pelas pistas que seguimos a Rainbow Dash deveria estar aqui. Será que ela está?”
Olhei para a pônei roxa, queria responder que não, mas sabia que era inútil.
“Ela está no segundo andar, em seu quarto.”
“Como assim em seu quarto?” perguntou Rarity surpresa.
“Sim, Dashie está em seu quarto.”
“Dashie? Ah então você já fez amizade com ela?” continuou Rarity.
Eu queria dar um soco naquela pônei branca, pois me chamar de amigo da Dashie foi um grande insulto pra mim”. Amigo?? Ela vive a há muito tempo comigo, e quero que vocês digam logo o que vieram fazer aqui.”
Celestia levantou uma sobrancelha após me alterar repentinamente: “Ela é a minha aluna.”
“Eu sei muito bem quem ela é.” Estava sendo curto e grosso. Furioso como estava, queria saber por que elas enviaram Dashie como uma filhote para o meu mundo.
Twilight mordeu o lábio, e Celestia continuou: “Sim, claro. Ela estava trabalhando em um feitiço para ajudar a equipe do tempo com uma nova técnica para desenvolvimento de tempestade. Bem, eles exageraram um pouco no tamanho da tempestade, e quando Twilight usou sua mágica para tentar dissipá-lo, um relâmpago atingiu sua magia, e infelizmente Rainbow Dash acabou sendo atingida pela explosão, que de alguma forma fez ela parar… aqui nesse mundo. Então estamos aqui para resgatá-la, apenas isso.”
Antes que eu pudesse responder, Dashie me chamou de dentro do seu quarto, “Pai? Está tudo bem?”
Meu coração se partiu pela segunda vez enquanto eu olhava de pônei para pônei. Elas estavam confusas, pois reconheceram a voz da Dashie, mas me chamando de pai.
“Hã … desculpe docinho” Applejack surge retornando da cozinha. “Eu ouvi direito ou.. a Rainbow Dash te chamou de pai?”
Antes que eu pudesse responder, Celestia foi mais rápida. “Você se importa de explicar?”
Eu estava perdido, sem saber o que fazer, era muita coisa na minha mente ao mesmo tempo. Havia apenas uma coisa que poderia fazer, e tinha que fazer mesmo sabendo que não iria gostar.
“Vão para a sala de estar e sentem-se em um lugar confortável, eu vou descer com ela.”
Eu não permiti que elas respondessem, lhe dei as costas e subi as escadas lentamente.
“Pai?”
“Sim Dashie, já vou. Nós …” Olhei para para baixo observando o grupo de pôneis enquanto me viam subir”… nós precisamos conversar filha.”
E foi isso que eu fiz. Disse a ela quem estava lá embaixo, e que elas estavam aqui para levá-la embora. Ela tinha visto o desenho animado tantas vezes, achava as aventuras divertidas. Mas ela tinha desistido de qualquer possibilidade de que a Dash do desenho era ela, e só a via como uma simples cartoon. Então disse a ela que essas pôneis do desenho estavam lá na sala e que vieram para busca-la. Ela não acreditou e deu risada, achando que estava brincando. Então, eu a levei até a sala de estar.
“DASHIE!” Pinkie gritou, pulando em cima da sua amiga azul.
Dashie foi rápida para empurrar o pônei rosa pra longe, “Fica longe de mim!” Pinkie foi segurada pelas outras pôneis na sala antes que fosse ao chão. Todas olharam para Dashie preocupadas depois de empurrar sua melhor amiga.
Pinkie ficou espantada.
“Você … não me reconhece … não é?”
“Não, ou qualquer uma de vocês”, continuou Dashie. Doeu-me de várias formas ouvir isso. Eu sabia que estas eram suas amigas, mas tantas coisas aconteceram que ela não tinha como saber a verdade. E nem as outras pôneis, então eu tive que explicar:
“Eu… Dashie, sente-se por favor para que eu possa falar com elas.”
Ela fez exatamente isso, em sua cadeira. O tempo todo ela olhava para todas as pôneis que ocupavam os sofás e o tapete central em frente à lareira.
Primeiro eu tinha que começar com a seguinte pergunta: “Há quanto tempo ela foi enviada pra cá?”
A pergunta pegou elas desprevenidas, mas Twilight limpou sua garganta enquanto falava: “Cerca de quinze dias atrás, por quê?”
Eu fiquei sem palavras. “Quinze dias atrás? impossível, ela está comigo há 15 anos! Isso significa que um dia em seu mundo corresponde a um ano aqui.”
“Bem” eu continuei: “Portanto tem sido muito mais tempo no meu mundo.”
“Quanto tempo?” Twilight perguntou.
“… Já disse, quinze anos.”
Todas as pôneis, inclusive Celestia, ficaram boquiabertas.
“Isso não explica porque ela não nos reconhece!” disse Applejack.
“A resposta é simples. Quando a encontrei, ela era uma filhote” .
“Como é que é?!”
“Pelos meus cálculos, acho que ela não era mais velha do que um pônei de quatro ou cinco anos na época.”
Agora Celestia pareceu surpresa.
“Está dizendo que cuidou da Rainbow Dash por 15 anos, desde que ela era uma filhote?” perguntou ela.
Balancei a cabeça positivamente e olhei para Dashie, que estava com um olhar sem expressão.
“Nós … ela é …” Tentei falar, mas não conseguia conter as lágrimas por mais tempo: “Eu sei que não é verdade … Deus, eu gostaria que fosse, mas…”
“Eu entendo, o pai, agora faz sentido”, Celestia me interrompeu, mantendo um olhar severo sobre seu rosto. Ela estava pensando, tentando juntar as peças em sua mente sobre o que tinha acontecido. Provavelmente, a magia sendo instável, pode ter revertido a idade da Dashie quando veio parar aqui.
Por alguns momentos estava tranqüilo, quando finalmente Dashie quebrou o silêncio.
“Então, o que deveria acontecer agora?”
Olhei para a princesa, querendo saber no que estava pensando. Eu não tinha idéia no que ela estava planejando, ou sentindo naquele momento.
“Bem, é bastante simples. Twilight?” Celestia olhou para sua pupila, que imediatamente se animou ao ouvir seu nome, “Você ainda se lembra daquela mágica de memória? Desde o incidente com o Discordia?”
Twilight simplesmente balançou a cabeça, e em seguida pulou do sofá para o chão.
Eu sabia o que estava por vir, o que Celestia tinha em mente. Ela queria que Twilight apagasse as memórias de Dashie para começar do zero. Ou, o que eu esperava, que ela simplesmente recuperasse em Dashie suas memórias perdidas de suas amizades e de sua vida em Ponyville. Eu não tinha certeza do que fazer, mas senti que estava certo. Eu sabia que estava certo, e precisava ser feito. Vivia falando pra mim mesmo, durante quinze anos, que esse momento poderia acontecer. Mas havia algo que precisava dizer antes. Estas pôneis estavam levando minha amada filha embora, para longe, e eu tinha algumas palavras para falar antes do que poderia acontecer.
“Não, espere por favor”, eu comecei. Twilight parou e olhou para a deusa do sol, “Apenas, me dê um momento com ela por favor. Tudo que eu peço, pois … pois esta é a última vez que vamos nos ver.”
Eu tinha desistido de segurar minhas lágrimas, e neste momento estava chorando abertamente. As pôneis sentiram o quanto eu estava sofrendo, e Dashie não parecia estar se saindo muito bem também. Então, imaginando que não era bom prolongar o inevitável, fui até a cadeira onde Dashie estava sentada. Me ajoelhei em sua frente para ficar na altura de seus olhos enquanto falava.
“Dashie, minha pequena Dashie. Eu te amo com todo meu coração. Você tem feito maravilhas para me abrir do homem que eu fui uma vez. Você …” Eu tive que dar uma pausa no momento, para me estabelecer “… você me trouxe tanta alegria na minha vida que eu não posso, possivelmente, nunca retribuir.”
Neste ponto, Dashie também tinha começado a chorar. Que só piorou a situação para mim.
“Esses 15 anos que tivemos juntos, conversando, brincando, voando.. Todos esses dias têm sido tão especial pra mim que eu só quero que você saiba, que vou sempre te amar. Não importa se somos biologicamente diferentes, ou de mundos diferentes. Eu não me importo sobre o que você irá pensar de mim, ou se você sequer irá se lembrar de mim, mas agora, você sendo minha Dashie, eu quero você” eu abracei ela. Se houver algum problema, e você precisar de mim, não hesite em bolar uma forma de me encontrar, ok?”
Eu tentei rir, passando a impressão de que essa última parte foi uma brincadeira. Funcionou, apenas ligeiramente, já que ambos continuamos a chorar. Também podia ouvir algumas pôneis fungando atrás de mim, imaginava a Pinkie Pie chorando igual ao segundo episódio da primeira temporada, depois da reconciliação entre Luna e Celestia.
“E-eu… te-tenho mesmo que ir.. papai?”
Já faziam alguns anos quando ela realmente me chamou de “papai”. Na maioria das vezes era simplesmente “pai”. Senti-me bem, sabendo que ela ainda gostava de mim o suficiente para me chamar de papai, bem como nas primeiras vezes que ela tinha dito isso para mim, tantos anos atrás.
Simplesmente balancei a cabeça, quando me levantei. Antes que pudesse ficar totalmente de pé, ela saltou em cima de mim e me abraçou apertado. Podia sentir as lágrimas na parte de trás do meu pescoço, e eu voltei a abraçá-la.
“É a sua casa, Dashie. Você não pertence a este lugar. Você precisa voltar para seu mundo.”
“Eu pertenço aqui, com você!”
Doeu muito dizer, mas tinha que mantê-la convencida de que esta era a coisa certa a fazer: “Você é limitada aqui, só é capaz de voar ao redor da casa. Você não tem amigos, ou pôneis para se relacionar. Estava apenas cuidando de você até este momento chegar, mas nunca pensei que seria tão doloroso. “
Ela permaneceu em silêncio por mais alguns minutos enquanto nos abraçamos apertado.
“Eu amo você papai…”
“E eu também te amo, minha pequena Dashie”
Então nos separamos, e ela desceu no chão.
Neste ponto, todas as outras pôneis tinham lágrimas em seus olhos, até mesmo Celéstia. Ela parecia muito presunçosa de saber o que tinha acontecido, a diferença de tempo e tal, mas era evidente que a diferença de idade foi um choque. Ela provavelmente esperava encontrar Rainbow Dash com uns 35 anos de idade, mas estava com o equivalente a 20 anos.
Twilight aproximou-se de Dashie, fungando uma vez antes de seu chifre brilhar. Eu sabia o que estava por vir, e doeu muito … mas sabia que estava certo. Eu a amava, e queria o melhor para ela, para suas amigas, e de uma forma distorcida para mim. Agora sabia que ela estava realmente indo pra casa, onde poderia voar sem preocupações e a hora que quisesse, sem quaisquer limitações. Ela poderia desfrutar da companhia de amigos mais uma vez.
“Espere!” falou Dashie.
Olhei para ela, quando se afastou de Twilight, “Antes de eu ir, quero pegar uma coisa.”
Antes que qualquer pônei ou eu pudesse falar, ela voou até seu quarto. Foi rápida, e voltou com uma caixa de sapatos em suas patas dianteiras. Eu não tinha certeza se seria permitido levar nada de volta com ela, e já imaginava Celestia questionando. Mas ela permaneceu silenciosa, permitindo que Dashie rapidamente anotasse algo em um pedaço de papel e o colocasse sobre a mesa do café.
Ela olhou de volta pra mim, ainda chorando, mas com um sorriso no rosto. Ela já sabia que era assim que tinha que terminar. Presumi que na caixa estavam seus itens mais queridos que ela mantinha caso tivesse que sair. Apesar de me machucar pensando sobre isso, esperava que ela tivesse uma foto nossa. Mas não seria bom, pois ela ficaria se lembrando de mim, o que a faria triste.
“Eu sinto muito, Rainbow Dash.”Disse Twilight enquanto começava. “Eu… eu sinceramente gostaria que houvesse uma outra maneira de resolver isso. Gostaria de não ter que fazer isso. Mas …”
“Ele não pode …” interrompeu Dashie “, papai não pode vir comigo?”
A gagueira em sua voz me dizia que ela estava pensando alto, não necessariamente perguntando para as pôneis. Twilight balançou a cabeça, incapaz de manter contato visual com sua amiga enquanto chorava diante dela.
“Rainbow Dash” Celestia lhe chama a atenção: “Ele não pode acompanhá-la em nosso mundo, assim como você não pode ficar no dele. Nunca era pra isso ter acontecido, e esse mundo ao nosso redor não foi feito para nós. Mas ainda assim ..” Sorrindo, Celestia olhou para mim, e depois para a nossa sala de estar. Todas as fotos de nós juntos, todas as coisas de Dashie e pertences espalhados pela sala, “… e ainda assim, algo bonito aconteceu aqui. Algo que nem eu mesma posso explicar em sua totalidade.”
“Quando descobri onde você foi parar, esperava o pior. Achei que estivesse em perigo, ferida e manchada pela crueldade deste mundo. Mas agora, vejo que é exatamente o contrário. Esse lugar, este homem que tem cuidado de você, me mostra que você sempre esteve em bons cascos, ou mãos. “
Dashie suspirou, começando a se acalmar depois das palavras de Celestia.
Celestia, em seguida, voltou a olhar para mim, ainda sorrindo: “Eu não teria como saber, mas pelo que vejo na minha frente, a quantidade de amor que ambos compartilham e compartilharam juntos, me diz que você sempre a tratou como se ela fosse igual a você . Mesmo com as diferenças óbvias, você ainda foi imparcial com relação à a sua espécie, suas origens. Você sempre a teve como sua filha, que só faz todo esse momento que estamos passando ainda mais difícil. “
Eu absorvi suas palavras, bem como as pôneis outros na sala.
“Então, devo dizer a você, caro senhor, não responsabilize minha aluna Twilight pelo que ela está prestes a fazer. Dashie nunca foi sua, e nenhum pônei tinha a intenção de causar um mal a nenhum de vocês. Se você tiver que culpar alguém, gostaria que fosse eu. Eu sou a única que ajudou a trazê-las aqui, para levar Rainbow Dash para sua casa, que fica longe daqui. “
Eu não conseguia olhar para nenhuma delas. Minha respiração tensa resultava em soluços. Minha mente estava fluindo sozinha, pensando em todas as coisas que eu e Dashie fizemos juntos. Respirei fundo quando resolvi falar:
“… Assim como eu poderia culpar algum pônei? Por enviar Rainbow Dash aqui?”
Eu funguei, depois limpei minha garganta para continuar. Quase engasgava enquanto procurava as palavras para me expressar.
“Estes foram os melhores 15 anos da minha vida. Então, eu sinto o contrário;. Gostaria de agradecer a você, Twilight, e ao resto de vocês. Obrigado, pelo que fizeram, embora não intencional. E finalmente, agradecer a você, por todos os meus anos, minha vida, e meu amor, com Dashie.” Tentei sorrir para Twilight entre os soluços, mas ela parecia à beira das lágrimas, e passou a olhar para o nada, antes de começar a chorar.
Celestia, em seguida, levantou-se do tapete em que estava, e se aproximou de mim.
“Não há necessidade de agradecimentos, bom senhor. Em vez disso, gostaria de agradecer a você, por cuidar de um de meus pôneis. Ela nunca teria sobrevivido por tantos anos nesse mundo sem uma pessoa boa como você.”
Celestia fechou os olhos, e então inclinou seu majestoso chifre de unicórnio para mim. Não me mexi, e nem tinha certeza do que estava acontecendo quando ela tocou o chifre na minha cabeça. De repente, senti uma energia calorosa passando pelo meu corpo. Logo depois ela recuou, ainda sorrindo.
“Obrigada.”
Em seguida, outra pônei falou.
“Obrigada, senhor,” Twilight acrescentou, finalmente sendo capaz de falar através de suas lágrimas.
“Graças, meu senhor” disse Applejack.
“Obrigada, querido, por cuidar da nossa Rainbow”. Disse Rarity.
“Hum, o-obrigada” disse Fluttershy com sua voz meio tímida.
“Obrigada!” Gritou Pinkie Pie, que logo em seguida pulou até mim e me abraçou.
Eu não pude deixar de rir um pouco da sua atitude. E os rumores na internet eram verdadeiros: sua crina tinha mesmo cheiro de algodão doce.
Fiquei em silêncio enquanto era abraçado, então olhei para Dashie, que também estava sorrindo.
Todas as pôneis se voltaram para Dashie quando o chifre de Twilight começou a brilhar mais uma vez.
“Agora você está pronta, Rainbow?” Perguntou Twilight novamente, aproximando seu chifre nela enquanto iniciava a magia.
Ela simplesmente balançou a cabeça confirmando, enquanto fechava os olhos esperando o inevitável.
Parecia que o tempo estava correndo devagar quando Twilight encostou o chifre na testa de Dashie. Comecei a ter lembranças aleatórias de nós juntos. Me lembrava das épocas que dava banho nela quando ainda mais nova, com a água da banheira espirrando por todos os lados. Eu ainda sentia o gosto de todos os bolos que tentávamos fazer, mesmo os que não deram certo. O cheiro do ar livre de nosso tempo no parque, onde ela foi capaz de usar suas asas. Havia tantas memórias, que simplesmente tinha que desligar o meu cérebro para não sofrer mais.
Uma única lágrima corria pela face esquerda da Dashie. Sua mente estava fazendo a mesma coisa que a minha, forçando nossas melhores lembranças de uma só vez, pois esta seria a última vez que veríamos um ao outro.
Finalmente, havia uma luz brilhante no chifre de Twilight, e quando pude ver de novo todas haviam ido embora. Todos as pôneis desapareceram. Através das minhas lágrimas, suspirei de alívio. Me senti mal e bem ao mesmo tempo. Porque agora a Dashie estava em Ponyville. Fiquei na sala por mais alguns minutos, apenas olhando fixamente para o chão vazio onde Dashie estava antes de desaparecer. Então, olhei em volta da sala e percebi que estava diferente. As fotos minhas e de Dashie juntos não estavam mais nas paredes.
Muitos dos itens pessoais dela espalhados pela sala de estar também haviam sumido. Eu estava confuso, então corri até seu quarto. Quando abri a porta, o que vi no lugar de seus cartazes e pôsteres de show aéreo jogados em sua cama foi um escritório simples. Uma mesa com um computador barato sobre ela.
Levei algum tempo para digerir o que estava sentindo, antes que compreendesse tudo o que estava acontecendo. Fazia sentido, mas ainda assim picava meu coração. Para garantir que nada aconteceu entre os mundos, Celestia removeu qualquer existência da Dashie… de estar comigo. Quinze anos, tudo escorrido pelo ralo quando a sua existência foi varrida do meu mundo. Senti que todos esses anos foram em vão.
Mas as minhas memórias ainda permaneciam com ela. Poderia me lembrar de tudo que passamos como se fosse ontem. Quando Celestia tocou seu chifre em mim, deve ter sido para proteger minhas memórias. Será que ela fez o mesmo pela Dashie? Voltei para a sala, enquanto pensava. Na mesa de café, havia um livro, era o nosso álbum de fotos. Sentei-me no sofá e o abri. Na primeira página, tinha a foto minha e dos meus pais logo depois do meu nascimento.
Eu continuei a folhear, olhando para o meu próprio passado. Havia uma lacuna depois que meus pais morreram, nessa parte do livro eu queria colocar falsas imagens expressando a minha felicidade, que era o desejo da minha mãe. Então, fui folheando até chegar em um pedaço de papel. Apanhei-o, e imediatamente reconheci a escrita da mão. Ou melhor, da boca.
“Pai,
Por 15 anos você cuidou de mim. Por 15 anos você me amou, brincou comigo, e me fez sentir que a minha vida nesse mundo sempre valeu a pena. Eu não sou uma pégasus de muitas palavras, mas mesmo que lhe dissesse isso pessoalmente, senti que era importante uma versão escrita, pois assim você saberia que tudo foi real.
Eu te amo papai. Você me ajudou a ser a pégasu que sou hoje. Não tenho certeza do que vai acontecer, se vou me lembrar de tudo que passamos, mas quero que você saiba que sempre foi um excelente pai, mesmo quando eu era teimosa, você nunca deixou de ser carinhoso comigo.
Com a permissão de Celestia, espero que permitam manter nossas fotos; nossas memórias, para que você nunca se esqueça que eu te amo.
De sua filhinha sempre,
De sua pequena Dashie de sempre,
Rainbow Dash.”
Eu coloquei o papel de volta para a página, pude sentir as marcas de lágrimas secas espalhadas nele. Eu li a nota, várias vezes, até memoriza-las. Então viro a página, e vejo uma foto de Dashie sorrindo, como se estivesse me saudando.
Continuando a folhear, vejo que todas as fotos ainda estavam no álbum. Seu primeiro banho, suas primeiras palavras, seu primeiro desenho, até mesmo sua primeira pena crescendo nas asas. Tudo na casa se foi, mas o que eu tinha neste livro ainda permaneceu. Não me atrevo a mudar nada nesse álbum, mas vou continuar a adicionar fotos. Para mostrar que todos esses anos com ela ajudou não apenas ela mesma a ser a pégasu que se tornou, mas que também me ajudaram a ser o homem que sou hoje.
Sou um homem novo se comparado aquele de 15 anos atrás. Graças a um milagre que aconteceu em minha vida. Se nunca tivesse voltado para aquela caixa … se não tivesse fugido da rotina naquele dia … poderia ter perdido tudo entre nós. Tive sorte que deu certo. Posso dizer com alegria que realizei o desejo dos meus pais. Embora esteja triste, ainda estou feliz pelo tempo que tive com ela.
Agora eu fico sozinho nessa casa vazia, olhando com um sorriso para a pintura preferida da minha mãe com o arco-íris, cada vez que o vejo, penso na Dashie. Deveria estar chorando, deveria me sentir horrível e não quero mais nada senão minha filha de volta. E, ainda assim, sinto-me aliviado em saber que tudo está bem. Ela não fugiu, ou me deixou em condições ruins, ela foi para casa, para onde ela pertence, onde é seguro.
Olho de volta para meu álbum de fotos, observando a nossa foto mais recente. Ainda tem páginas em branco. E ainda tenho muita vida pela frente, e pretendo fazer o melhor dele.

Por mim.
Pela minha pequena Dashie.
Escrito por ROBCakeran53.


Se você leu tudo, acredito que esteja emocionado tanto quanto eu estive enquanto lia. Eu não utilizei a música, pois não a conhecia. Mas logo que descobri, decidi que seria uma boa se vocês escutassem enquanto estavam lendo, para dar um clima, sabe? ^^''

Eu espero que tenham gostado dessa Fanfic! Sei que nem metade se prestou a ler isso. Mas, perdeu a Fanfic mais linda do mundo.

Por hoje eu acho que posso dizer que é só!
Até o próximo post, beijos da Tia Armenny x3


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